• Padrões dietéticos e risco de câncer oral: estudo caso-controle em São Paulo Original Articles

    Marchioni, Dirce Maria Lobo; Fisberg, Regina Mara; Góis Filho, José Francisco de; Kowalski, Luiz Paulo; Carvalho, Marcos Brasilino de; Abrahão, Márcio; Latorre, Maria do Rosário Dias de Oliveira; Eluf-Neto, José; Wünsch Filho, Victor

    Resumo em Português:

    OBJETIVO: Analisar padrões dietéticos relacionados com o câncer oral. MÉTODOS: Estudo caso-controle de base hospitalar, parte de um estudo multicêntrico na América Latina, foi realizado em São Paulo entre novembro de 1998 e março de 2003 em 366 casos incidentes de câncer oral e 469 controles, pareados por freqüência de sexo e idade. O inquérito dietético foi realizado por questionário de freqüência alimentar. Analisou-se o risco associado ao consumo de grupos de alimentos definidos a posteriori, por análise fatorial. O primeiro fator, denominado "prudente", caracterizou-se pelo consumo de vegetais, frutas, queijos e aves. O segundo, "tradicional", pelo consumo de arroz e massas, leguminosas e carne, enquanto o terceiro, "lanches", pelo consumo de pão, manteiga, embutidos, queijos e doces. O último, "monótono", associou-se inversamente ao consumo de frutas e vegetais, e a maior parte dos outros itens alimentares. Calculou-se um escore para cada padrão derivado, para casos e controles. Após categorização dos escores em tercis, de acordo com a distribuição dos controles, estimou-se a odds ratio e o intervalo de confiança de 95% por regressão logística múltipla não condicional. RESULTADOS: O padrão "tradicional" relacionou-se inversamente com o câncer oral (OR=0,51; IC 95%: 0,32; 0.81, p=0,140), enquanto o padrão "monótono" associou-se positivamente (OR=1,78; IC 95%: 1,78; 2,85, p<0,001). CONCLUSÕES: Os resultados sugerem que o prato tradicional do brasileiro, composto de arroz e feijão, mais quantidades moderadas de carne, pode conferir proteção quanto ao câncer oral, independente de outros fatores de risco reconhecidos, como consumo de álcool e tabaco.

    Resumo em Inglês:

    OBJECTIVE: To analyze the association between dietary patterns and oral cancer. METHODS: The study, part of a Latin American multicenter hospital-based case-control study, was conducted in São Paulo, Southeastern Brazil, between November 1998 and March 2002 and included 366 incident cases of oral cancer and 469 controls, frequency-matched with cases by sex and age. Dietary data were collected using a food frequency questionnaire. The risk associated with the intake of food groups defined a posteriori, through factor analysis (called factors), was assessed. The first factor, labeled "prudent," was characterized by the intake of vegetables, fruit, cheese, and poultry. The second factor, "traditional," consisted of the intake of rice, pasta, pulses, and meat. The third factor, "snacks," was characterized as the intake of bread, butter, salami, cheese, cakes, and desserts. The fourth, "monotonous," was inversely associated with the intake of fruit, vegetables and most other food items. Factor scores for each component retained were calculated for cases and controls. After categorization of factor scores into tertiles according to the distribution of controls, odds ratios and 95% confidence intervals were calculated using unconditional multiple logistic regression. RESULTS: "Traditional" factor showed an inverse association with cancer (OR=0.51; 95% CI: 0.32; 0.81, p-value for trend 0.14), whereas "monotonous" was positively associated with the outcome (OR=1.78; 95% CI: 1.78; 2.85, p-value for trend <0.001). CONCLUSIONS: The study data suggest that the traditional Brazilian diet, consisting of rice and beans plus moderate amounts of meat, may confer protection against oral cancer, independently of any other risk factors such as alcohol intake and smoking.
  • Suspeita de toxoplasmose aguda em gestantes Original Articles

    Castilho-Pelloso, Marcela Peres; Falavigna, Dina Lúcia Morais; Falavigna-Guilherme, Ana Lúcia

    Resumo em Português:

    OBJETIVO: Determinar a prevalência de gestantes com sorologia reagente suspeita de toxoplasmose aguda e descrever as variáveis maternas e do concepto relacionadas ao perfil clínico, laboratorial e terapêutico. MÉTODOS: Estudo retrospectivo com gestantes IgM anti-Toxoplasma gondii reagentes e conceptos atendidos em serviço público de saúde do Paraná, de janeiro/2001-dezembro/2003. Foram obtidas informações a partir de dados dos registros clínicos, laboratoriais (ELISA IgM/IgG), ultrassonográficos e de entrevista materna. Para testar a homogeneidade dos indices de IgM em relação ao tratamento usado, aplicou-se o qui-quadrado de Pearson. O nível de significância adotado foi de 5%. RESULTADOS: Ocorreram 290 casos (1,0%) IgM reagentes, evidenciando prevalência de 10,7 gestantes com sorologia reagente a cada 1.000 nascimentos. Duzentos e quatorze de 290 gestantes iniciaram o pré-natal até a 12ª semana de gestação; 146/204 foram assintomáticas; cefaléia, distúrbios visuais e mialgia foram queixas freqüentes; 13/204 gestantes apresentaram anormalidades ao ultrassom; 112/227 gestantes receberam quimioprofilaxia; um único teste ELISA apoiou a maioria das tomadas de decisão para a quimioprofilaxia. Houve tendência em tratar gestantes com índices de IgM=2.000. Dentre as crianças expostas, 44/208 tiveram algum acompanhamento sorológico, das quais todas foram IgG reagentes e três casos IgM reagentes apresentaram manifestações clínicas. CONCLUSÕES: A existência de gestantes com suspeita laboratorial de toxoplasmose aguda não devidamente investigada e de conceptos sem monitoração adequada evidenciam que aspectos fundamentais da assistência pré-natal não estão sendo sistematicamente observados. Aponta-se a necessidade de implementar o sistema de vigilância para gestantes e crianças expostas ao T. gondii.

    Resumo em Inglês:

    OBJECTIVE: To determine the prevalence of reagent serology for suspected acute toxoplasmosis in pregnant women and to describe clinical, laboratory and therapeutic profiles of mothers and their children. METHODS: A retrospective study was conducted with IgM-anti-Toxoplasma gondii-reagent pregnant women and their children who attended the public health system in the state of Paraná, Southern Brazil, from January 2001 to December 2003. Information were obtained from clinical, laboratory (ELISA IgM/IgG) and ultrasonographic data and from interviews with the mothers. To test the homogeneity of the IgM indices in relation to the treatment used, the Pearson's Chi-square test was applied. Comparisons were considered significant at a 5% level. RESULTS: Two hundred and ninety (1.0%) cases of suspected IgM-reagent infection were documented, with a prevalence of 10.7 IgM-reagent women per 1,000 births. Prenatal care started within the first 12 weeks for 214/290; 146/204 were asymptomatic. Frequent complaints included headaches, visual disturbance and myalgia. Ultrasonography revealed abnormalities in 13 of 204 pregnancies. Chemoprophylaxis was administered to 112/227; a single ELISA test supported most decisions to begin treatment. Pregnant women with IgM indices =2.000 tended to be treated more often. Among exposed children, 44/208 were serologically followed up and all were IgG-reagent, and three IgM-reagent cases showed clinical symptoms. CONCLUSIONS: The existence of pregnant women with laboratorially suspected acute toxoplasmosis who were not properly followed up, and of fetuses that were not adequately monitored, shows that basic aspects of the prenatal care are not being systematically observed. There is need of implementing a surveillance system of pregnant women and their children exposed to T. gondii.
  • Fatores de risco para mortes fetais anteparto no Município de São Paulo, Brasil Original Articles

    Almeida, Marcia Furquim de; Alencar, Gizelton Pereira; Novaes, Hillegonda Maria Dutilh; França Jr, Ivan; Siqueira, Arnaldo Augusto Franco de; Campbell, Oona M R; Schoeps, Daniela; Rodrigues, Laura Cunha

    Resumo em Português:

    OBJETIVO: Analisar os fatores de risco para óbitos fetais anteparto. METODOS: Estudo de caso-controle de base populacional realizado no Município de São Paulo, SP, de agosto de 2000 a janeiro de 2001. Os indivíduos foram selecionados a partir de uma coorte de nascimentos, obtida por meio de vinculação de declarações de nascimento e óbito. Os casos foram 164 óbitos fetais anteparto e os controles, uma amostra aleatória de 313 de sobreviventes até 28 dias. Foram realizadas entrevistas domiciliares com as mães e aplicado protocolo hospitalar. Foi empregada regressão logística para análise dos dados, baseado em modelo conceitual hierárquico. RESULTADOS: Os fatores estatisticamente significantes associados aos óbitos fetais anteparto foram: mães com união recente ou sem união; escolaridade da mãe inferior a quatro anos; nascimentos anteriores de baixo peso; mães com hipertensão, diabetes, e sangramento durante a gestação; ausência ou pré-natal inadequado presença de malformação congênita e presença de pequeno para idade gestacional. As maiores frações de risco atribuível na população foram inadequação do pré-natal (40%), hipertensão (27%), presença de pequeno para idade gestacional (30%), e ausência de união com mais de um ano (26%). CONCLUSÕES: Os fatores de risco proximais são os mais importantes para a mortalidade fetal anteparto. Entretanto, fatores distais como mães de baixa escolaridade e união recente ou ausente também desempenham importante papel. Melhorar acesso e qualidade do pré-natal pode promover impacto positivo na mortalidade fetal.

    Resumo em Inglês:

    OBJECTIVE: To assess risk factors for antepartum fetal deaths. METHODS: A population-based case-control study was carried out in the city of São Paulo from August 2000 to January 2001. Subjects were selected from a birth cohort from a linked birth and death certificate database. Cases were 164 antepartum fetal deaths and controls were drawn from a random sample of 313 births surviving at least 28 days. Information was collected from birth and death certificates, hospital records and home interviews. A hierarchical conceptual framework guided the logistic regression analysis. RESULTS: Statistically significant factors associated with antepartum fetal death were: mother without or recent marital union; mother's education under four years; mothers with previous low birth weight infant; mothers with hypertension, diabetes, bleeding during pregnancy; no or inadequate prenatal care; congenital malformation and intrauterine growth restriction. The highest population attributable fractions were for inadequacy of prenatal care (40%), hypertension (27%), intrauterine growth restriction (30%) and absence of a long-standing union (26%). CONCLUSIONS: Proximal biological risk factors are most important in antepartum fetal deaths. However, distal factors - mother's low education and marital status - are also significant. Improving access to and quality of prenatal care could have a large impact on fetal mortality.
  • Continuidade na prática de atividade física da adolescência para a idade adulta: estudo de base populacional Original Articles

    Azevedo, Mario Renato; Araújo, Cora Luiza; Silva, Marcelo Cozzensa da; Hallal, Pedro Curi

    Resumo em Português:

    OBJETIVO: Avaliar a associação entre a prática de atividades físicas sistematizadas na adolescência e o nível de atividade física no lazer na idade adulta, com ênfase nas diferenças quanto ao gênero. MÉTODOS: Estudo transversal de base populacional foi realizado em Pelotas, Brasil, 2003. Amostra representativa de domicílios foi selecionada em múltiplos estágios. Indivíduos com idades entre 20 e 59 anos foram entrevistados. As atividades físicas de lazer foram investigadas por meio do Questionário Internacional de Atividades Físicas. Dados sobre atividade física na adolescência foram baseados em recordatório. RESULTADOS: Entre os 2.577 indivíduos entrevistados, 27,5% foram classificados como suficientemente ativos e 54,9% relataram participação em atividades físicas sistematizadas na adolescência. Indivíduos envolvidos com atividade física na adolescência apresentaram maior probabilidade de serem suficientemente ativos na idade adulta (razão de prevalências ajustada 1,42; IC 95%: 1,23; 1,65). Este efeito foi mais forte entre as mulheres (razão de prevalências 1,51; IC 95%: 1,22; 1,86) se comparado aos homens (razão de prevalências 1,35; IC 95%: 1,10; 1,67). CONCLUSÕES: Estímulo à prática de atividade física na idade escolar pode ser uma intervenção importante contra a epidemia de inatividade física na idade adulta. Embora as mulheres tenham reportado menor atividade física na adolescência, o efeito desta experiência sobre o comportamento na idade adulta foi mais forte do que entre os homens.

    Resumo em Inglês:

    OBJECTIVE: To assess the association between regular physical activity in adolescence and leisure-time physical activity in adulthood, with emphasis on gender differences. METHODS: A population-based cross-sectional study was carried out in Pelotas, Southern Brazil, in 2003. A representative sample of households was selected in multiple stages and subjects aged 20-59 years were interviewed. Leisure-time physical activity was evaluated using the International Physical Activity Questionnaire. Data on adolescent physical activity were based on subjects' recall. RESULTS: Of 2,577 subjects interviewed, 27.5% were classified as adequately active, and 54.9% reported regular physical activity in adolescence. Subjects who engaged in regular physical activity during adolescence were more likely to be adequately active in adulthood (adjusted prevalence ratio 1.42; 95% CI: 1.23; 1.65). This effect was stronger in women (adjusted prevalence ratio: 1.51; 95% CI: 1.22; 1.86) than men (adjusted prevalence ratio: 1.35; 95% CI: 1.10; 1.67). CONCLUSIONS: Promoting physical activity in school age may be a successful intervention against the epidemic of adult inactivity. Although women were less likely to report regular physical activity in adolescence, the effect of this experience on adult behavior was stronger than in men.
  • Pacientes de longa permanência em um hospital psiquiátrico no sul do Brasil Original Articles

    Fleck, Marcelo Pio de Almeida; Wagner, Luciane; Wagner, Mário; Dias, Miriam

    Resumo em Português:

    OBJETIVO: Descrever as características demográficas, funcionamento social e qualidade de vida de uma população de pacientes recebendo cuidados de longa duração em hospital psiquiátrico. MÉTODOS: O estudo foi realizado em Porto Alegre, RS, em 2002. Foram avaliados 584 (96%) indivíduos sob hospitalização de longa duração usando quatro questionários validados (World Health Organization Quality of Life - Brief Social Behaviour Schedule, the Independent Living Skills Survey, the Brief Psychiatric Rating Scale) e um outro (Questionnaire for assessing Physical Disability Degree) para avaliar grau de incapacidade. RESULTADOS: O tempo médio de hospitalização foi de 26 anos (DP: 15,8) e 46,6% dos indivíduos não apresentavam incapacidade física. Os pacientes tiveram suas habilidades de funcionamento social e autonomia acentuadamente afetados. Poucos (27.7%) conseguiram responder o questionário de avaliação de qualidade de vida, apresentando importante comprometimento em todos os domínios. A Brief Psychiatric Rating Scale evidenciou prevalência baixa de sintomas positivos na população estudada. CONCLUSÕES: Os achados revelaram haver importante grau de comprometimento no funcionamento social, nível de autonomia e qualidade de vida dos idosos. Tais aspectos devem ser considerados no planejamento da internação de longa duração de pacientes idosos.

    Resumo em Inglês:

    OBJECTIVE: To describe the demographic profile, social functioning, and quality of life of a population of long-stay care patients in a psychiatric hospital. METHODS: A study was carried out in Porto Alegre, Southern Brazil, in 2002. A total of 584 (96%) long-stay patients were assessed by means of the following instruments: the World Health Organization Quality of Life, the Social Behavior Schedule, the Independent Living Skills Survey, the Brief Psychiatric Rating Scale and another instrument for assessing disability (Questionnaire for Assessing Physical Disability). RESULTS: The average hospital stay was 26 years (SD: 15.8) and 46.6% of inpatients had no physical disability. Patients had their social functioning skills and autonomy largely impaired. Few of them (27.7%) answered the instrument for assessing quality of life, and showed significant impairments in all domains. The Brief Psychiatric Rating Scale evidenced a low prevalence of positive symptoms in this population. CONCLUSIONS: The institutionalized population studied presented significantly impaired social functioning, autonomy, and quality of life. These aspects need to be taken into consideration while planning for their deinstitutionalization.
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revsp@org.usp.br